A 32a Bienal de São Paulo – Incerteza Viva enfoca noções de “incerteza” e “entropia” a fim de refletir sobre as condições atuais da vida e as possibilidades oferecidas pela arte contemporânea para abrigar e habitar incertezas. Com curadoria de Jochen Volz e dos cocuradores Gabi Ngcobo (África do Sul), Júlia Rebouças (Brasil), Lars Bang Larsen (Dinamarca) e Sofía Olascoaga (México), a mostra acontece até 12 de dezembro, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo.
As mulheres representam mais da metade dos artistas convidados e refletem o resultado de um processo de pesquisa iniciado em março de 2015, cuja lista final tem uma seleção de participantes de 33 países marcada pela forte presença de artistas nascidos após 1970 e de projetos comissionados, produzidos para o contexto da exposição.
Segundo o curador Jochen Volz, os artistas da 32a Bienal trazem estratégias e especulações sobre como viver com a incerteza. “Estamos buscando compreender diversidades, olhar para o desconhecido e interrogar aquilo que tomamos como conhecido. Entendemos os diferentes saberes do nosso mundo como complementares e não como excludentes”.
Muitas das obras atualmente em desenvolvimento envolvem residências artísticas na cidade de São Paulo e viagens de pesquisa pelo Brasil. Para citar alguns exemplos, Carla Filipe, em parceria com o Instituto de Botânica de São Paulo, desenvolve uma horta com plantas alimentícias, espontâneas e em extinção; Iza Tarasewicz investiga a presença do ritmo musical polonês Mazurka no Brasil; Dalton Paula visitou três cidades envolvidas na economia do tabaco e Pilar Quinteros partiu para a Serra do Roncador, no Mato Grosso, a fim de seguir os rastros de Percy Fawcett (1867-1925), explorador desaparecido nos anos 1920.(com informações da assessoria da Bienal e do site da mostra).
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Carla Filipe, em Migração, exclusão e resistência(2016), partiu de uma pesquisa iniciada em 2006, que propunha a construção de hortas e jardins em ambientes urbanos, instaurando o uso coletivo do espaço privado ou a apropriação de espaços públicos destinados a outros fins. Ao articular modos distintos de vida, ela questiona a ideia de propriedade e amplia a noção de sobrevivência. Essa obra nos conta sobre espécies em vias de extinção, vegetais comestíveis pouco conhecidos e sobre plantas que surgem em locais inesperados.
Dalton Paula, objetos são destituídos de suas funções originais para se tornarem suporte da pintura, esse procedimento se dá sobre um conjunto de alguidares, pratos cerâmicos que recebem a comida e também as oferendas em rituais de religiões afro-brasileiras. Com a pintura em seu interior, esses objetos confrontam os discursos hegemônicos da arte e da política, buscam novos personagens e reencenam passagens de nossa história. Paula viajou aos três pontos da Rota do tabaco(2016) – Piracanjuba, em Goiás, Cachoeira, no Recôncavo Baiano, e Havana, em Cuba – para pesquisar como essa herança se apresenta hoje.
Iza Tarasewicz apresenta TURBA, TURBO e sua prática inclui escultura, performance e desenho, e explora os dualismos entre o permanente e o efêmero, o orgânico e o artificial, o comum e o extraordinário. Muitos de seus trabalhos se relacionam diretamente à escala do corpo, e seu movimento no espaço e no tempo. TURBA, TURBO (2015) é uma escultura que consiste em uma estrutura inspirada tanto em uma estante modernista quanto no Grande Colisor de Hádrons do CERN, próximo à Genebra, na Suíça. Experimentos com materiais crus são dispostos sobre essa estrutura, como se a máquina gigantesca fosse acelerar suas partículas até a velocidade da luz, provocando estados de caos com o intuito de investigar a origem do universo.
Bené Fonteles – Marcada pela esfera ritualística, a criação do artista abarca instalações, esculturas e manifestos em profundo diálogo com questões ambientais, saberes populares e o desejo de fundir o “ser brasileiro” e o “ser universal”. Desde a década de 1970, Fonteles empreende projetos transdisciplinares que extrapolam as fronteiras da arte, autodenominando-se “artivista”. Ágora: OcaTaperaTerreiro(2016) reúne traços importantes de sua trajetória, como o sincretismo simbólico e a cocriação. Dentro do Pavilhão da Bienal, Fonteles propõe uma construção de teto de palha e paredes de taipa, materiais usados em habitações indígenas e caboclas.
Frans Krajcberg – Em sua vivência artística e ecológica, marcada pela decisão de constituir residência desde a década de 1970 em Nova Viçosa, Bahia, Frans Krajcberg encontra na diversidade e exuberância da flora a matéria- prima e a plasticidade que qualificam e compõem seu trabalho escultórico, assim como suas gravuras, pinturas, desenhos e fotografias. Dentre as inúmeras obras desenvolvidas ao longo de sua trajetória, três conjuntos de esculturas – apelidadas de Gordinhos, Bailarinas e Coqueiros – ganham destaque no espaço expositivo do pavilhão modernista da Bienal, tomando parte do térreo e criando um ambiente de transição entre o exterior do parque e o interior do edifício.
Jorge Menna Barreto, obra de arte e restaurante instalado no mezanino da #32bienal, o projeto Restauro (2016) levanta questões acerca dos hábitos alimentares e seu impacto no meio ambiente. O cardápio foi elaborado em parceira com a nutricionista e chefe Neka Menna Barreto e a Escola Como Como de Ecogastronomia, que têm como prioridade a diversidade do reino vegetal. O coletivo Grupo Inteiro pensou no projeto espacial e no que o artista chama de “microclimas”, relação entre o espaço e a experiência do comensal. No Restauro, é possível comer lendo, comer junto e comer ouvindo – esta última experiência, resultado de uma parceria com Marcelo Wasem, disponibiliza ao visitante entrevistas com agricultores e paisagens sonoras captadas em agroflorestas.