O mercado de Miami (EUA) é foco e sonho de muitos escritórios brasileiros de arquitetura, design e decoração. Alguns já conquistaram espaço e cliente por lá. Outra parte almeja e ensaia as primeiras etapas para solidificar a ponte e encurtar a distância entre as Américas.
Convidado pelo Casahall Design District, o engenheiro Gustavo Cortez, sócio da D. Cortez Management com sede no Brasil e Miami, contou sua experiência à frente da empresa, como tudo começou e como estabelece a parceria com profissionais brasileiros. A empresa surgiu da parceria entre o engenheiro e o arquiteto Danilo Moreno com o objetivo de atender ao mercado de serviços. No portfólio estão obras para clientes como Vanessa Larré, Roberto Migotto, Fabio Morozini, João Armentano, entre outros. O papo ocorreu no auditório, no início de março, para uma plateia de convidados. Ele conta mais na entrevista.
* a partir de hoje, dia 23 de março, a empresa anunciou que estará trabalhando remotamente e os serviços externos serão paralisados por 15 dias.
Como você iniciou sua trajetória em Miami?
GC – Depois de 4 anos que eu e meu sócio abrimos a D.Cortez Engenharia viajamos para os EUA para passear e conhecer algumas cidades. Em uma oportunidade de expansão dos negócios resolvemos encarar o mercado americano junto com uma amiga, mas acabou que não deu certo. Logo em seguida, com o mercado brasileiro muito instável, resolvemos retomar o projeto. Depois de muitas idas e vindas, muitas reuniões, muita pesquisa, e passados quatro anos, tivemos a oportunidade de fazer nosso primeiro trabalho. Isso nos abriu uma porta, de lá para cá a empresa tem crescido e se estabilizado no mercado.
Quais os principais desafios que encontrou por lá?
GC – Primeiro desafio é a distância e a língua. Isso tem que estar muito claro na cabeça de quem pretende iniciar carreira por lá. Como foi um projeto a médio prazo, e sem deixar a empresa no Brasil parar, acredito que o trabalho duplo de manter a operação funcionando por aqui e trabalhar numa expansão da empresa no exterior foi o maior desafio de todos. As diferenças de cultura, padrões do mercado, leis, códigos de obra e processos fazem parte do jogo, tem que estar aberto e aprender a se atualizar de tudo. Não vejo como desafio e sim como uma sequência de aprendizado.
Qual a diferença entre o mercado de Miami em comparação ao brasileiro? Quais as características?
GC – No Brasil nascemos e crescemos ouvindo e participando de inúmeras histórias, profissionais ou pessoais. O sul da Flórida vive um período de grande crescimento, bastante favorável para os negócios com o surgimento de inúmeros prédios assinados por renomados arquitetos, o mercado de compra e venda de imóveis é um das principais atividades. Isso nos possibilita fazer negócios com pessoas do mundo todo. Um investimento em dólar sempre será um bom negócio para o brasileiro. A rentabilidade é muito boa na área imobiliária, o sul da Flórida é muito procurado em todas as épocas do ano devido ao clima, e isso só melhora com os investimentos que estão sendo feitos por aqui. Como por exemplo o projeto recente do novo Hotel Hard Rock Cafe, reforma do estádio de futebol americano que sediou o último Show Boll, o projeto do novo estádio de futebol do Clube de Miami, está para ser aprovado do autódromo de F1, todos os shoppings da região estão em expansão. Isso mostra o poder que essa região tem. Os investimentos não param por aqui e é um uma proporção muito superior que nas cidades do Brasil.
Como funciona o seu suporte para escritórios brasileiros nos EUA?
GC – Nossa ideia é fazer com que qualquer projeto seja fácil para nossos parceiros e clientes. Hoje a tecnologia nos ajuda muito, já que podemos fazer conversas de vídeo, enviar fotos, orçamentos. Tudo a longa distância sem precisar estar um do lado do outro. Temos que trabalhar dobrado, temos que fazer a nossa parte e ainda ter o olhar do arquiteto. Tudo que acontece durante o projeto reportamos aos responsáveis, da forma que acharem melhor, alguns preferem relatórios semanais, outros na hora e por whatsapp, outros por vídeo. Nós nos adaptamos para que o projeto tenha o melhor resultado e o cliente tenha a segurança de ter feito uma boa escolha, em ter contratado o arquiteto do Brasil e uma empresa brasileira.
Sendo um pouco mais direto, nós desenvolvemos fornecedores para o projeto, buscamos materiais para adaptar, acompanhamos a entrega de todos os serviços, acompanhamos a entrega dos mobiliários, ajudamos na produção dos ambientes também. Fazemos o apoio de ponta a ponta, desde a viabilidade do projeto até a flor no vaso.
Qual o seu perfil de cliente?
GC – Nosso perfil são clientes que procuram ter seu imóvel bem decorado. São clientes que sabem que quando se contrata um arquiteto ou designer ele terá um imóvel diferenciado, seja para uso ou para negócio. Isso não significa investimento alto, isso vai da vontade do cliente com o talento do arquiteto.
Qual o perfil de construção, de imóveis que essas pessoas buscam?
GC – A grande maioria apartamentos residenciais. 80% dos nossos projetos já executados são apartamentos, os outros 20% estão divididos em casas, lojas e escritórios. Nesses 80%, temos desde apartamentos de 30 anos que reformamos por completo, até apartamentos recém-entregues que fizemos instalação de piso, marcenaria e luminárias.
Como é a relação com os profissionais?
GC – Gosto de estar próximo aos profissionais e clientes. Participo 100% de todos os projetos, coloco minha equipe conforme a necessidade e acompanho todo o processo. Tentamos facilitar de todas as formas possíveis, nós enxergamos o profissional como nosso parceiro, nos sentimos parte da equipe deles, temos que vestir a camisa para que tudo de certo.
Alguma dica para escritórios que pretendem entrar no mercado de Miami?
GC – Várias dicas: a primeira é saber que não é impossível. Às vezes é até mais fácil do que imaginamos. O primeiro passo tem que ser dado: visite Miami, algumas obras e mostre nas redes sociais. São importantes também as viagens para fora para conhecer novos conceitos, conversar com os amigos e clientes e expor o interesse em fazer projetos nos EUA. A terceira dica é que algum investimento tem que ser feito, como falei anteriormente: viajar, fazer cursos, participar de feiras internacionais e muita rede social. A quarta: tirem o máximo de dúvida, estudem o mercado, conversem com pessoas que já tiveram experiências -tanto arquitetos, clientes e fornecedores. Quanto mais histórias tiver acesso, mais informação terá e mais segurança. A última dica é insistir, tem que querer. Provavelmente as oportunidades não cairão no colo, mas elas existem.
Fonte: Entrevista concedida à A CASAA.